2007 Serpa
    Com a presença de
A Circulação da Palavra

A palavra lida, a palavra dita, a voz, o texto. Dentro e fora de campo. O monólogo, o diálogo, a conversa, a entrevista, a palavra em circulação. Como a palavra se instala com a imagem, como se inscreve nela ou se confronta com ela. Propomo-lo como exercício de reaprendizagem, contra o automatismo e a banalização do discurso verbal. E, de novo, propomo-lo juntamente com actos de descoberta – de filmes e de universos de autor. Haverá tempo para mergulhar em universos pessoais, oriundos de territórios muito diferentes, e haverá um convite para viajar entre eles, escutando os ecos que possam surgir. E haverá ainda cruzamentos pontuais com autores não presentes, ou títulos históricos convocados pela sua força vital.

19 Junho, Terça
Sessão #1, Noite
Ice
1969, 132 min
Robert Kramer

Num futuro próximo, um grupo de jovens revolucionários, militantes do Comité Nacional de Organizações Revolucionárias, prepara-se para sair da clandestinidade e incorporar acções de guerrilha. Entretanto, no México, a Frente de Libertação combate os Estados Unidos da América. O objectivo é associar os revolucionários brancos com os negros, Porto-riquenhos e Mexicanos, todos sujeitos à mesma exploração e violência, mas divididos pela sua incapacidade de se compreenderem. Os responsáveis do Comité descobrem que devem enfrentar as mesmas incertezas, dúvidas e receios que os militantes. A ofensiva revolucionária rebenta. Jornais subversivos são distribuídos. Um coronel é morto. Uma refinaria explode. Prisões e estações de rádio e televisão são tomadas de assalto. Depois da polícia eliminar o líder do grupo, o seu lugar é tomado por Jim que dá instruções, a partir de uma cabine telefónica, a um dos seus camaradas, anunciando a próxima e decisiva batalha.

20 Junho, Quarta
Sessão #2, Manhã
Am Siel
1962, 32 min
Peter Nestler

No primeiro documentário que realizou, Peter Nestler conta, de um modo pouco convencional, a história de uma pequena aldeia marítima na Alemanha do Norte. O protagonista e narrador é um dique velho e gasto que expressa os seus pontos de vista nostálgicos sobre as pessoas que habitam na aldeia, situada na outra extremidade da comporta.

Aufsätze
1963, 10 min
Peter Nestler

Um olhar terno e humorado sobre as vidas de um grupo de crianças no meio rural Suíço. Crianças lêem pequenos ensaios que escreveram a propósito do caminho para a escola, da distribuição do leite durante o intervalo, de uma discussão no recreio. O uso do dialecto alemão suíço em vez do alemão clássico enfatiza o fascínio de Nestler pelo simples, pelo inocente e pelo natural.

Mülheim (Ruhr)
1964, 14 min
Peter Nestler

Filmado alguns anos após o encerramento das primeiras jazidas mineiras na área do Ruhr, Nestler conduz-nos numa viagem através das minas, das pilhas de carvão, dos reservatórios e dos alojamentos dos trabalhadores e bares da cidade de Mülheim. Nesta viagem de catorze minutos, o contraste entre os trabalhadores e os seus empregadores é explorado, utilizando imagens com muito movimento e uma montagem rápida que acentua os dois extremos.

Ödenwaldstetten
1964, 36 min
Peter Nestler

Um olhar crítico sobre a emergência da industrialização e as suas consequências no quotidiano. Numa pequena aldeia, vemos como o artesanato e os utensílios agrícolas tradicionais são substituídos por equipamento tecnológico e pela produção em cadeia. As palavras dos habitantes, as lembranças do passado, da guerra e da reconstrução, e a descrição do ‘novo’, fazem do filme um documento apaixonante sobre as mutações dos anos 60, comuns a diversos países.

Rheinstrom
1965, 13 min
Peter Nestler

Numa navegação de treze minutos, Nestler leva-nos a descer o rio Reno. A oportunidade dada pelo transporte fluvial manteve em baixa o preço das matérias-primas, transformando o Reno numa das mais importantes artérias de transporte industrial do mundo. O filme transmite a significância que este caminho aquático representa para as pessoas.

Von Griechenland
1965, 28 min
Peter Nestler

Filmado dois anos antes da junta militar ter chegado ao poder, o filme reflecte sobre a instabilidade que caracterizou o governo Grego no século XX, culminando na vitória e afastamento do político liberal Georgios Papandreou. O caos daí resultante e a exigência de novas eleições trouxeram milhares de pessoas para as ruas, o que destabilizou ainda mais o então Governo grego.

Im Ruhrgebiet
1967, 34 min
Peter Nestler

Im Ruhrgebiet é sem dúvida um dos filmes onde Nestler mostra a sua revolta. É uma afirmação pessoal e desencantada sobre a vida na região do Ruhr: a luta contra o fascismo, a realidade do comunismo e a sua própria luta para ser reconhecido na Alemanha. Nestler confronta os espectadores com uma sequência rígida de imagens acompanhada por vozes aparentemente frias, manifestando uma grande frustração. Nestler filma sem qualquer compromisso. Nesta ‘rebelião’, filmada de modo impressionante, só há lugar para a ira.

Debate I com Peter Nestler
Sessão #3, Tarde
Die Nordkalotte
1990/1991, 90 min
Peter Nestler

Em Die Nordkalotte, Peter Nestler fornece uma visão crítica sobre a industrialização, especialmente a extracção de minério na Península de Kola, que levou à destruição massiva de florestas, lagos e tundra. O filme examina igualmente as consequências da industrialização nos povos indígenas da Lapónia. A tradição e a compreensão da natureza dos poucos Lapões criadores de renas na remota província da península Russa e no norte da Escandinávia são justapostas ao mundo moderno após a Revolução Industrial.

Pachamama
1995, 90 min
Peter Nestler

Pachamama é outro bom exemplo dos documentários extraordinários do realizador. Neste filme, Nestler leva-nos a uma expedição ao Equador, ao coração de uma cultura índia antiga. Apesar de fortemente danificados pelos conquistadores espanhóis, muitos dos tesouros sobreviveram e, notavelmente, muitas das velhas tradições e costumes indígenas ainda hoje são postos em prática. Pachamama é um filme de uma beleza serena e de uma tristeza amena, mas não amarga; um filme sobre a riqueza cultural de um país fascinante. – Ted Roth

Sessão #4, Noite
Nissim Dit Max
2004, 83 min
Vladimir Léon

Dois filhos, Pierre e Vladimir, questionam o seu pai, Max Léon, acerca da sua vida e od seu comprometimento enquanto militante comunista. Fazem também perguntas à sua mãe, Svetlana, e à irmã, Michèle. Para além dos relatos da família, encontram outras testemunhas do sonho socialista: Jacques Rossi, antigo agente do Komintern e deportado para o Goulag, e Marina Vlady que casou com o cantor contestatário Vladimir Vyssotski e viveu na URSS nos anos setenta. Esperanças e desesperos, entre a palavras e o silêncio. Escrevem-se assim as vidas singulares, e assim diferem, talvez, da História.

21 Junho, Quinta
Sessão #5, Manhã
Flucht
2000, 87 min
Peter Nestler

O pintor judeu Leopold Mayer fugiu da sua cidade natal, Frankfurt, aquando da ascensão do regime nazi, encontrando refúgio em França, onde mudou o seu nome para Leo Maillet. A sua estadia foi encurtada pela invasão alemã de Paris. Flucht traça a fuga de Maillet da Gestapo e da polícia francesa, utilizando a série de pinturas ‘Entre Chien et Loud’ de Maillet como enquadramento para o filme. Acompanhado pelo filho de Maillet, Daniel, Peter Nestler revisita os esconderijos do artista falecido e traça um retrato assombrosamente belo de um artista excepcional em fuga.

Debate II com Peter Nestler
Sessão #6, Tarde
Le Brahmane du Komintern
2006, 128 min
Vladimir Léon

‘Do México à Russia, da Alemanha à Índia, o realizador Vladimir Léon procura os traços de um revolucionário aventureiro de Bengal’ – M.N. Roy. Fundador do partido comunista de Zapata, no México, líder da Internacional Comunista na Rússia Soviética, ao lado de Lenin, militante anti-Estaline e anti-Nazi na pré-guerra com a Alemanha, um político e um filósofo ateu na Índia independente, Roy personifica as lutas de um século em diferentes continentes. No entanto, a história oficial destes três países preferiu apagar a sua marca. Através de relatos directos e indirectos, Léon pacientemente reconstrói a caótica existência de um espírito livre. Este filme, um inquérito e meditação sobre o curso obscuro da História, é um épico moderno que nos permite perceber o estado corrente das coisas em diferentes países.

Debate com Vladimir Léon
Sessão #7, Tarde
La Vie Après la Mort
2002, 23 min
Pierre Creton

‘Tinha organizado literalmente o meu encontro com Jean Lambert. Desde logo receei a sua morte, de que ele próprio me tentou prevenir: escolher um amigo tão velho… À noite escutávamos os Javas até que o medo se dissipasse… De qualquer modo rimo-nos em frente à câmara, que estava ali, estupidamente sozinha, a filmar-nos. Com Marie, uma amiga, comprámos a casa em que te encontrámos morto, quando o teu coração parou durante a sesta. Ariane, uma vizinha lembra-se do tempo em que ele pensava viver até ao eclipse. Eu não moro em Vattetot, passei a viver onde Jean Lambert já não vive. É isso.’

Détour suivi de Jovan From Foula
2005, 30 min
Pierre Creton

Détour é uma sucessão de planos fixos de uma das ilhas Shetland. Jovan from Foula é uma sucessão de travellings de carro em Foula, outra das ilhas Shetland, com um guia chamado Jovan. Détour suspende o olhar do viajante e compõe na paisagem a galeria intangível das obras que alimentam precisamente esse olhar. Jovan from Foula acompanha o movimento da vida onde cada um procura o outro, procura-se a si próprio, foge a si próprio, e finalmente se escapa.

22 Junho, Sexta
Sessão #8, Manhã
Secteur 545
2005, 105 min
Pierre Creton

Filmado na zona de Caux, na Normadia, em França, Secteur 545 define os limites pelos quais Pierre Creton pesa e inspecciona gado e leite para criadores que o solicitam. Sendo também realizador, Creton é, ao mesmo tempo, um actor e um observador neste filme. Creton capta momentos da vida rural que estão muito longe dos clichés pitorescos. Uma pergunta, lançada explicitamente aos criadores de gado, traça a linha estrutural do filme: qual a diferença entre o Homem e o animal?

Paysage Imposé
2006, 50 min
Pierre Creton

Numa escola agrícola em Yvetot, alunos e professores relatam as suas experiências do termo ‘paisagem’, a sua avaliação e o seu futuro. O filme não é um estudo sistemático do assunto, nem este assunto é um tema, excepto no sentido musical, uma vez que aparecem outras paisagens, as dos rostos e dos gestos dos adolescentes, as das salas de aula, as dos oficinas, as das salas de jogos e dos seus corredores. Em suma, a memória de uma infância tão mutável quanto a aparentemente estática geografia em que nos movemos.

Debate com Pierre Creton e Vincent Barré
Sessão #9, Tarde
Balaou
2007, 77 min
Gonçalo Tocha

Faz agora sete meses que a Blé, minha mãe, morreu. Estou em frente do mar de S. Miguel, Açores, a terra da família distante. Encontro a tia-avó Maria do Rosário, 91 anos, à procura do seu momento para partir. Fala-me de Deus. À sua volta, os bebés nascem. Todos passam pelo mar da ilha, negro, vulcânico. É aqui que encontro a Florence e o Beru, um casal francês que todos os anos cruza o Atlântico no Balaou, um barco à vela. Convidam-me a continuar a viagem com eles. Mando fora o bilhete de avião e faço-me ao mar alto. Dividido em três momentos e oito lições, Balaou é uma viagem para aceitar o esquecimento das coisas. – G.T.

Debate com Gonçalo Tocha
Sessão #10, Tarde
Under the Men's Tree
1973, 15 min
David MacDougall

Nos campos de gado dos Jie no Uganda, os homens reúnem-se à sombra de uma árvore especial para fabricarem utensílios de madeira e pele, para conversarem, para relaxarem e para dormir. A conversa da tarde em questão desenvolve-se como uma espécie de etnografia invertida, centrada no mais notável bem europeu, o veículo motor. Um filme único, delicado e íntimo, repleto com o humor dos Jie e, implicitamente, o humor irónico dos realizadores.

Lorang's Way
1979, 63 min
David MacDougall
Judith MacDougall

Sendo o primeiro filme da trilogia Turkana Conversations, este é um retrato multifacetado de Lorang, o chefe de uma propriedade no noroeste do Quénia e um dos líderes da área. Porque são relativamente isolados e auto suficientes, muitos dos Turkana (incluindo o filho de Lorang) não imaginam a sua vida diferente no futuro. Mas Lorang não pensa da mesma maneira, porque já viu mais do mundo exterior. O filme é o estudo de um homem que vê a vulnerabilidade da sua sociedade e cujo papel foi moldado por essa percepção. O filme explora a personalidade e ideias de Lorang através das suas conversas com os realizadores, o testemunho dos seus amigos e parentes, a observação do seu comportamento com as suas mulheres, filhos e homens da sua idade e estatuto.

Sessão #11, Noite
He Fengming
2007, 183 min
Wang Bing

Inverno na China. Uma cidade na neve. A noite cai. Embrulhada no seu casaco, uma idosa caminha lentamente para chegar ao seu humilde apartamento. Lá dentro, He Fengming senta-se e recorda. As suas memórias levam-nos até 1949 – ao início de uma jornada que nos vai conduzir por mais de 30 anos da sua vida e da Nova China.

23 Junho, Sábado
Sessão #12, Manhã
Photo Wallahs
1991, 60 min
David MacDougall
Judith MacDougall

Photo Wallahs é um filme sobre os vários significados da fotografia, filmado no Mussoorie, uma famosa estância no norte da India que atrai turistas desde o século XIX. Neste local, a fotografia prosperou. Sem comentários falado, o filme descobre o seu tema nas ruas, nos bazares, nas lojas, em estúdios fotográficos e em casas particulares de Mussoorie, comparando, neste processo, os diferentes trabalhos e atitudes dos fotógrafos locais – os ‘photo wallahs’ de Mussoorie. Apesar da fotografia na India ter desenvolvido características culturais distintas, as suas múltiplas formas e usos dizem-nos bastante acerca da natureza e do significado da fotografia em todo o mundo.

Debate I com David MacDougall
Sessão #13, Tarde
The New Boys
2003, 100 min
David MacDougall

A dinâmica social do grupo é o foco deste filme sobre a vida num dormitório escolar, o quarto filme no quinteto Doon School Chronicles, o estudo prolongado de MacDougall sobre a infância e a adolescência na Doon School, no norte da Índia. Esta escola é o principal internato para rapazes da Índia, e este filme fornece uma visão única dos valores e formação da classe média indiana, e das elites pós-coloniais em geral. Dentro do grupo estão rapazes de personalidades e origens variadas – alguns líderes naturais, alguns sujeitos a provocações e intimidações, alguns provocadores, alguns pacificadores. Uma característica importante do filme é a inclusão de conversas entre os rapazes sobre as causas da agressão e da guerra, saudades de casa, comida de restaurante, e como falar com um fantasma.

The Age of Reason
2004, 87 min
David MacDougall

Último e derradeiro filme do quinteto Doon School Chronicles, The Age of Reason centra-se na vida de um estudante que Mac Dougall descobre na escola. O filme reflecte os pensamentos e sentimentos de Abhishek, um rapaz de 12 anos do Nepal, durante as suas primeiras semanas como estudante no colégio Doon. Esta é claramente a história do encontro entre um realizador e o seu objecto, e um olhar sobre uma criança na ‘idade da razão’.

Debate II com David MacDougall
24 Junho, Domingo
Sessão #14, Manhã
No País do Cinema: à volta dos Primeiros Olhares
Os Filhos de Lumière
Debate I com Peter Nestler
moderação de José Manuel Costa, Ricardo Matos Cabo e Nuno Lisboa
Debate II com Peter Nestler
moderação de José Manuel Costa, Ricardo Matos Cabo e Nuno Lisboa
Debate com Vladimir Léon
moderação de Cyril Neyrat, José Neves e Ricardo Matos Cabo
Debate com Pierre Creton e Vincent Barré
moderação de Cyril Neyrat e José Manuel Costa
Debate com Gonçalo Tocha
moderação de Francisco Ferreira e José Manuel Costa
Debate I com David MacDougall
moderação de Catarina Alves Costa e José Manuel Costa
Debate II com David MacDougall
moderação de Catarina Alves Costa e José Manuel Costa
Cinema da escuta
Nuno Lisboa
A experiência do concreto
Ricardo Matos Cabo
Dans la jungle: sur Ice
Cyril Béghin
Um programa diferente
José Manuel Costa
Revolutionary Style: Ice and Milestones
Ray Carney
Entretien de Louis Marcorelles avec Robert Kramer: sur Ice
Un sentiment de verité: entretien de Christoph Hübner
Uma conversa com Peter Nestler, entrevista de Stefan Hayn
Stefan Hayn
Sur Peter Nestler
Jean-Marie Straub
How everything started (around the Oberhausen Manifesto)
Rudolf Thome
Notas depois dos filmes
Harmut Bitomsky
Uma questão de confiança
Jörg Becker
À propos de Peter Nestler
Michel Delahaye
Ce que l’eau nous enseigne
Sebastian Feldmann
Conversation à propos de Secteur 545, avec Vincent Barré
Sobre as crianças em Nestler (foto-montagem)
Ricardo Matos Cabo
À propos de Paysage Imposé: entretien, avec Cyril Neyrat
Entretien de Oliver Pierre avec Vladimir Léon
Notes sur Paysage Imposé
Pierre Creton
With communist greetings: journal de tournage
Vladimir Léon
L’Inde nous appartient
Marie Anne Guerin
… d’une matière étrangère à mon être“: l’art de vivre de Pierre Creton
Cyril Neyrat
Notes sur Secteur 545
Pierre Creton
À propos de Détour: entretien, avec Stéphanie Nava
On Fengming: interview with Wang Bing
Notas de intenções de Balaou
Gonçalo Tocha
Une voix pour l’histoire
Jean-Michel Frodon
Uma estranha viagem: depoimento de G.T.
Francisco Ferreira
Fengming: le récit d’une vieille Chinoise
Isabelle Regnier
As vozes do Balaou
Gonçalo Tocha
About Fengming: A Chinese Memoir
Robert Koehler
O caminho sonoro do Balaou
Dídio Pestana
Eloge de Tiexi Qu: rencontre avec Wang Bing
Emmanuel Burdeau
Voltar
Martin Pawley
Subtitling ethnographic films
David MacDougall
Films of memory
David MacDougall
The Doon School
David MacDougall
About Lorang’s Way: A Turkana Man
Peter Loizos
Participantes
Afra Citlalli Mejia, Ágata de Azevedo Mandillo, Ágata Soraia Fona, Aina Nunez Riera, Ana Cristina Ferreira, Ana Isabel Strindberg, Ana Sofia Rosendo Pereira, Anabela Moutinho, André Dias, Ansgar, António Santa Maria, Arianna Mencaroni, Aya Koretzky, Bruno Varela, Carlos Alexandre Coelho, Caroline Barraud, Catarina Eugénia Simão, Catarina Machado Faria, Catarina Mourão, Cátia Salgueiro, Delfim Pedro Ramos, Denis Bellemare, Elena Arroyo Serrano, Elisa Zambelli, Eloy Enciso Cachafeiro, Francisco Leitão, Graça Lobo, Igor de Miranda Olszowski, Inês Mestre, Inês Gonçalves, Inês Ponte, Isabel Paiva, Hiroatsu Suzuki, Joana Pimenta, Joanot Cortês, João Carlos Carneiro, João Coimbra, Jorge Caballero Ramos, Jorge Flores Velasco, José Alberto Pinto, José Carlos Abrantes, José Ceia Leitão, José Miragall Plaza, Juana Castell Palou, Kathleen Gomes, Laura Tomás, Luis Alves Matos, Lurdes Martins, Madalena Miranda, Manos Panagiotopoulos, Manuel Alexandre Martins, Manuel André António, Maria Cláudia Alves, Maria Inês Martins, Marisa Alexandra Fernandes, Marta Pala, Marta Vilar Rosales, Miguel Clara Vasconcelos, Miryam Navarro Ruperez, Moncho Fernandez Gonzalez, Monique Lignon, Nélio Conceição, Nelson Alexandre Tondela, Noemi Diaz, Nuno Lopes, Nuria Garcia, Olivier Blanc, Pablo Trehin-Marcot, Panayiotis, Patricia Faria, Pedro Rosário, Pedro Rufino, Pedro José Duarte, Pedro José Gil, Pilar Monsell Prado, Ricardo Julião, Ricardo Oliveira Silva, Rodrigo Silva Candeias, Rui Ascensão, Sara Margarida Pita, Sharifabee Khan, Sónia Sofia Ferreira, Susana Nascimento, Susana Sousa Dias, Umme Salma
Direção
José Manuel Costa
Programação
José Manuel Costa, Nuno Lisboa e Ricardo Matos Cabo, em colaboração com Cyril Neyrat
Produção
Maria João Soares e Rita Forjaz
Assessoria Técnica (Vídeo)
António Medeiros
Assessoria de Imprensa
Marisa Cardoso
Design Gráfico
Oficina Grotesca e Manuel Quadros e Costa
Spot Televisão
Pedro Duarte
Spot Rádio
Sérgio Santos Silva
Gráfica
Ciência Gráfica
Apoio à Produção
Ana Cristina Almeida, Mathilde Neves, João Paulo Oliveira, Filipa Rosário, Inês Sapeta, Gaia Magnani, Gustavo Baptista e Olivier Marques
Colaboradores
Álvaro Galado, Ana Rita Soares, Henrique Galado, João Duarte Costa, Sílvia Romeiro e Tiago Morgado (Alunos da Escola Secundária de Serpa)
Tradução Simultânea
Kevin Rose e Márcia de Brito
Legendagem Eletrónica
Mariana Wallenstein e Teresa Borges
Projeção Película
Nuno Canhita e Paulo Nogueira (35mm), António Soares/Vídeovisão (16mm)
Projeção Vídeo
Open Space Studio
Fotógrafa
Marisa Cardoso
Motorista
Francesco Russo
Textos de Apoio
Joana Frazão (Coordenação), Joana Frazão, Nuno Lisboa, Susana Nascimento (Organização), Paulo Silveira, Carmo Lobo, Ana Cruz, Luísa Rodeia, Ana Patrícia Severino (Traduções do alemão), Ana Eliseu (Desenhos) e André Dias (Grafismo)
Moderação de Debates
Catarina Alves Costa, Vincent Barré, José Manuel Costa, Francisco Ferreira, Teresa Garcia, Pierre-Marie Goulet, Nuno Lisboa, Ricardo Matos Cabo, Cyril Neyrat e José Neves
Organização
Apordoc e Câmara Municipal de Serpa
Parceiros
Câmara Municipal de Serpa, Fundação Europeia Joris Ivens, O Lírio Roxo: Associação Cultural, Palácio dos Condes de Ficalho e Associação Os filhos de Lumière
Co-financiadores
Câmara Municipal de Serpa, Ministério da Cultura, ICA e Fundação Calouste Gulbenkian
Apoios Institucionais
Região de Turismo da Planície Dourada, Governo Civil de Beja, INATEL, Goethe Institut, Instituto Franco-Portugais, Ciné Reel, RTP2, CCDR Alentejo, Ambaal e Beja Digital
Patrocínios
Accenture, Esporão, Delta, Lufthansa, Acail, Arco Íris, Zens e Restaurante Molhó Bico
David MacDougall
David MacDougall (cuja obra foi em grande parte co-realizada com a sua mulher Judith) é um dos nomes maiores da prática e da teoria do «filme etnográfico» e da «antropologia visual» ao longo das últimas décadas. Nascidos e formados nos E.U.A., os MacDougall radicaram-se na Austrália em 1975. Dos finais dos anos 60 aos finais dos anos 80, a sua obra inclui essencialmente títulos realizados com povos semi-nómadas africanos – como os Jie do Uganda ou os Turkana do Quénia – e com os aborígenes australianos. A partir daí, as suas atenções voltam-se para a Índia, onde co-realizam uma obra sobre os fotógrafos duma localidade turística (em 1988/1991) e onde, já a «solo», David vem depois a abordar extensamente o quotidiano dum famoso colégio interno masculino (a Doon School, onde realizou cinco títulos, apresentados de 2000 a 2004). Entre uma coisa e outra, e também a «solo», ele assina ainda uma obra sobre uma pequena comunidade de pastores da Sardenha. Logo na sua área de partida – e, dir-se-ia, contra os próprios limites da expressão «antropologia visual» – esta é uma obra decisiva ao nível da inclusão da palavra, podendo lembrar-se, só a título de exemplo, as suas inovações no registo da expressão verbal indígena, em que as habituais traduções ou sintetizações sobrepostas foram erradicadas em prol da legendagem. David MacDougall tem extensa obra de ensaísta e é autor de dois livros de referência («Transcultural Cinema» e «The Corporeal Image: Film, Ethnography and the Senses»).
Filmes apresentados
Under the Men's Tree, 1973, 15 min
Lorang's Way, 1979, 63 min
Photo Wallahs, 1991, 60 min
The New Boys, 2003, 100 min
The Age of Reason, 2004, 87 min
Leituras
Films of memory, David MacDougall
The Doon School, David MacDougall
Gonçalo Tocha
Gonçalo Tocha, licenciado e pós-graduado em Língua e Cultura Portuguesa, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa é também músico, compositor e membro fundador do NuCiVo – Núcleo de Cinema e Vídeo da Associação de Estudantes da Faculdade de Letras. Colabora em diversos projectos de âmbito cultural na Universidade de Lisboa, nomeadamente organizando ciclos de cinema com a Reitoria (Divisão de Actividades Culturais e Imagem).
Filmes apresentados
Balaou, 2007, 77 min
Leituras
As vozes do Balaou, Gonçalo Tocha
Voltar, Martin Pawley
Peter Nestler
Nasceu em 1937 em Friburgo, na Floresta Negra. Após ter realizado uma série de pequenos documentários na Alemanha, centrados nas questões do trabalho e da transformação do espaço social e rural por influência da industrialização, Nestler emigrou para a Suécia em 1965, depois de ter realizado Von Griechenland, poderoso filme político que lhe valeu a acusação de «propaganda comunista». Nesse primeiro período radica uma obra cinematográfi ca essencial, tão vasta quanto desconhecida, com mais de 50 documentários realizados até hoje, muitos deles para a televisão. Entre as muitas vozes que habitam o cinema de Nestler, é a sua própria voz que, para além do comentário e da descrição, manifesta o peso próprio das coisas filmadas: os gestos do trabalho e da vida comum, os ritmos do quotidiano, os lugares do mundo, as idades humanas. Na descrição objectiva das transformações do mundo rural pela indústria, na apresentação da actualidade histórica da resistência política, no retrato cultural de um povo, ou na restituição da graça e da lucidez da linguagem da infância, o programa apresentado em Serpa constitui um retrato do trabalho de Nestler, percorrendo em três blocos diversos territórios e períodos do seu trabalho, dos primeiros fi lmes aos mais recentes. Nestler é provavelmente um dos cineastas que melhor explorou a complexa relação entre o som e a imagem, dando à palavra, ao texto, ao uso da voz e da música uma importância primordial. Dele escreveu Jean-Marie Straub, seu amigo, «acredito cada vez mais que Nestler foi o cineasta mais importante na Alemanha depois da Guerra», citando ainda, a propósito dos seus filmes, uma frase de Bertold Brecht: «Exumar a verdade enterrada nos escombros da evidência, reunir evidentemente o singular e o geral, fixar o particular no grande processo, esta é a arte dos realistas.»
Filmes apresentados
Am Siel, 1962, 32 min
Aufsätze , 1963, 10 min
Mülheim (Ruhr) , 1964, 14 min
Ödenwaldstetten, 1964, 36 min
Rheinstrom, 1965, 13 min
Von Griechenland, 1965, 28 min
Im Ruhrgebiet, 1967, 34 min
Die Nordkalotte, 1990/1991, 90 min
Pachamama, 1995, 90 min
Flucht, 2000, 87 min
Pierre Creton
Nascido em 1966, vive e trabalha em Vattetot-sur-Mer (Seine Maritime), França. Depois dos estudos em Belas Artes no Havre, Pierre Creton decide instalar-se na Normandia, na região de Caux, onde tinha crescido e que se torna o território explorado e calcorreado nos seus fi lmes. Depois de Le Vicinal, primeira curta-metragem em 16mm, a mini-DV torna-se o instrumento apropriado ao seu trabalho e o único suporte dos seus fi lmes. É entre 1998 e 99 que se afirmam a forma e as preocupações do cineasta: entre o documentário e o ensaio íntimo, realiza três curtas-metragens, partindo cada uma de uma relação, de amizade ou de trabalho. E é trabalhando no sector da pesagem do controlo leiteiro que Creton tem a ideia para a sua primeira longa-metragem, Secteur 545 (2004): fi lme híbrido, simultaneamente um documentário sobre a criação bovina na região de Caux e fi cção íntima da relação de Creton com o patrão. Em 2006, realiza Paysage Imposé, documentário sobre o liceu agrícola de Yvetot, que se torna a primeira parte de uma trilogia sobre o mundo agrícola. Trabalha actualmente na terceira, consagrada a um lar de idosos. Paralelamente a este trabalho sobre e na região de Caux, Creton realiza uma curta metragem de ficção, Le Voyage à Vazelay (2006), peregrinação ao túmulo de Georges Bataille, um dos autores que alimentam a sua obra. O encontro com Vincent Barré, escritor viajante, escultor e artista plástico, dá lugar a outros dois filmes, co-realizados: Détour e L’Arc d’Iris são dois filmes de viagem, o primeiro nas Ilhas Shetland e o segundo nos Himalaias indianos. Recentemente, Pierre Creton participou na filmagem e na montagem de Mètis, filme de Vincent Barré sobre o seu trabalho de escultor. A amizade, o trabalho, o devir do mundo camponês e a relação com as paisagens: é a partir destas questões que os filmes de Pierre Creton esticam os limites do documentário, entrançando aí as linhas da ficção e do íntimo.
Filmes apresentados
La Vie Après la Mort, 2002, 23 min
Détour suivi de Jovan From Foula, 2005, 30 min
Secteur 545, 2005, 105 min
Paysage Imposé, 2006, 50 min
Vladimir Léon
Nasce em Moscovo, em 1969, e chega a Paris em 1975, com o irmão Pierre, a mãe (russa) e o pai (francês). Nos seus documentários, a forma biográfica permite o acesso à história na sua relação íntima com o presente. A partir da actualidade da voz, sob a forma da evocação ou do inquérito, os acontecimentos do século cruzam-se com a memória singular: em Nissim dit Max, através do retrato do pai, correspondente em Moscovo do jornal francês L’Humanité, realizado a meias com o irmão, o realizador Pierre Léon; ou pelos testemunhos da biografia política de um revolucionário bengali, entre o México, a Rússia, a Alemanha e a Índia, em Le Brahmane du Komintern. Vladimir Léon prepara actualmente um projecto a partir dos escritos de Alexis de Tocqueville sobre a democracia na América. Os filmes de Léon questionam de forma objectiva o valor da entrevista filmada, e do testemunho e do comentário sobre a imagem, operando de modo subtil os registos da oralidade e da fixação da memória, entre as deslocações de sentido e a atenção ao equilíbrio sensível das distâncias afectivas e temporais entre o presente e o passado.
Filmes apresentados
Nissim Dit Max, 2004, 83 min
Le Brahmane du Komintern, 2006, 128 min